Cinquenta anos atrás, George Orwell publicou “Mil novecentos e oitenta e quatro”, o seu romance presciente sobre a psicologia do estado totalitário. Em 1949, ainda não estava na moda no Ocidente reconhecer a verdadeira natureza da União Soviética, aquela monstruosa experiência em engenharia humana. Mas Orwell viu a verdade e contou inesquecivelmente num dos grandes livros do século XX.
Um grupo de ilustres académicos reuniu-se na Universidade de Chicago para marcar o 50o aniversário da obra-prima de Orwell. Antes do início da conferência, a estação NPR de Chicago, WBEZ, dedicou um segmento do seu programa “Odyssey” a uma discussão de “Mil novecentos e oitenta e quatro”. Os membros do painel incluíram o estudioso jurídico Richard Epstein, o historiador Peter Novick e a romancista Margaret Drabble. Durante a conversa, o anfitrião chamou a atenção especial para a história – o controlo da história, a reescrita contínua da história – que é uma característica marcante do estado totalitário, como retratado por Orwell. Esse aspeto do romance soa a verdadeiro? Surpreendentemente, Epstein e Novick declararam sem hesitar que, nesse ponto, Orwell simplesmente “percebeu mal”. É claro que o regime soviético tentou manipular a história para os seus propósitos, embora não fosse uma obsessão – disseram esses estudiosos com confiança – como o romance de Orwell poderia sugerir. E claramente ele superestimou o efeito…
Deixo-vos um excerto que não se poderia encaixar melhor com a realidade que vivemos nos dias de hoje:
“No campo de batalha, na câmara de tortura, num navio prestes a ir ao fundo, as causas porque lutamos são sempre esquecidas, pois o corpo avoluma-se até ocupar o Universo inteiro, e até quando estamos paralisados pelo medo ou a gritar de dor, a vida é uma luta de todos os instantes, contra a fome, o frio ou a insónia, contra uma dor de estômago ou uma dor de dentes.” Felizmente as nossas causas não são esquecidas. Temos um Deus superior a todas as coisas em Quem confiamos mesmo quando tudo parece perdido e não há esperança. Que a nossa atitude possa ser semelhante à de Martinho Lutero em tempos semelhantes a estes (durante a Peste Negra):
“Pedirei a Deus para, misericordiosamente, proteger-nos. Então farei vapor, ajudarei a purificar o ar, a administrar remédios e a tomá-los. Evitarei lugares e pessoas onde a minha presença não é necessária para não ficar contaminado e, assim, porventura infligir e poluir outros e, portanto, causar a morte como resultado da minha negligência.
Se Deus quiser me levar, Ele certamente me levará e eu terei feito o que Ele esperava de mim e, portanto, não sou responsável pela minha própria morte ou pela morte de outros.
Se o meu próximo precisar de mim, não evitarei o lugar ou a pessoa, mas irei livremente conforme declarado acima.
Veja que essa é uma fé que teme a Deus, porque não é ousada nem insensata e não tenta a Deus”.
Excerto de uma carta escrita a Jan Huss
Lilian Calaim